domingo, 24 de maio de 2020

O Incrível Hulk que não deu certo.


O Incrível Hulk, exibido no Cine Maior neste domingo (24)

Bruce Banner, um cientista em fuga do governo dos EUA, precisa encontrar uma cura para o monstro em que se transforma em momentos de estresse.
Clique aqui para maiores informações sobre o filme.

Imortalizado... O Incrível Hulk é o personagem das HQs que possui mais riqueza de conteúdo do que os demais da Marvel. Suas histórias em quadrinhos e sua série televisiva entraram para a história... e tamanho feito só pode ser concebido por grandes escritores e diretores. Stan Lee deixou claro que... para que o Hulk funcionasse nos quadrinhos e se desvencilhasse das características mais comuns dos demais personagens da Marvel... era necessário dois fatores específicos: o incompreendimento apresentado na obra literária de horror de Mary Shelley... Frankenstein e o conflito interno entre o homem e o seu lado malévolo apresentado na obra de Robert Louis Stevenson... O Médico e o Monstro. Sem isso... esqueça... o Hulk jamais funcionaria... exceto como um herói qualquer de todas as mídias possíveis. Brilhantemente... o diretor e roteirista do seriado televisivo do Gigante Verde... Kenneth Johnson... conseguiu dosar a atmosfera sombria do Hulk com uma pitada especial de melancolia. Como resultado... a adaptação para a tevê pode ser facilmente revista sem que a falta de recursos para a época possa comprometer seu desenvolvimento... fazendo com que você enxergasse com outros olhos.


Reconstituição de um momento antológico do piloto da série televisiva do Hulk.

O Incrível Hulk de 2008... produzido pelo Marvel Studios em parceria com a Valhalla Entertainment e distribuído pela Universal Pictures... é uma retomada falha e vergonhosa em resgatar a mitologia do Hulk apresentada nas duas mídias acima. Até hoje quando eu a revejo... a falta de empatia que me consome é tanta... que o filme não funciona nem mesmo como um simples aperitivo... não importa se você é muito fã do personagem ou não. "O Incrível Hulk" do Marvel Studios... falha miseravelmente até mesmo como uma produção genérica. Parece que a retomada foi feita para que não nos importássemos com ela... pela falta de expressão por parte do elenco... uso inapropriado de computação gráfica e a fadiga de uma hora e cinquenta e dois minutos esperando pelo "Hulk" e de quebra não vermos realmente todo o seu potencial.


Edward Norton... o Bruce Banner inexpressivo com olhar de sofrido.

O roteiro: Banner (Norton) é um cientista que... com a ajuda do general Ross (William Hurt)... recriam o soro do supersoldado... o mesmo que transformou Steve Rogers (Chris Evans) no "Capitão América". Acontece que o soro ainda não havia sido oficialmente testado... pois seus efeitos colaterais seriam danosos. Banner... para comprovar o quão certo estava em sua teoria... experimenta o soro em si mesmo... e se transforma inadvertidamente numa computação gráfica mal feita... desprovida de efeitos de maquiagem e de qualquer coisa que tornaria o Hulk ameaçador. E o resultado catastrófico da computação pode ser comprovado quando ela aparece durante o dia. O roteiro de Zak Penn joga tudo na cara do espectador... não que isso seja ruim... mas para funcionar é necessário que o roteiro funcione... o que não é o caso aqui. Uma salada de citações aos quadrinhos e tentativa de retomar o seriado televisivo do Hulk com variações entre dois universos das HQs... o que torna o Hulk de 2008 forçado e exagerado (e isso logo nos primeiros minutos). Culpado por ter ferido gravemente sua amada Betty... o que culmina com ele sendo caçado pelo pai da jovem... Banner se encontra em fuga até parar no Brasil... permanecendo escondido na Favela da Rocinha no Rio de Janeiro. Ele deixa acidentalmente seu sangue gama-irradiado vazar dentro de uma garrafa numa fábrica no RJ onde ele trabalhara. E então o filme prepara para uma futura sequência... já que quem bebeu o refrigerante com o sangue gama... provavelmente se transformaria em "Hulk" (ou algo assim).


Bruce Banner no Brasil.

Banner também tenta se curar por conta de algumas flores (????) que segundo um informante misterioso (Sr. Azul) ajudaria a combater o desenvolvimento de suas células irradiadas... mas Banner descobre que elas estão impregnadas de gama. Enfim... como se trata de uma retomada do Hulk de Ang Lee... o filme de Louis Leterrier não perde tempo em recriar uma nova origem para o alter ego de Banner... mostrando este se transformando logo de cara... permanecendo em fuga e tentando buscar uma cura para sua condição. Só que do contrário da versão de Ang Lee... você não sabe realmente quem é o Bruce Banner de Norton... nós sequer o conhecemos... e ele desde o princípio aparenta ser um Banner que poderia se transformar em tudo... menos no Hulk... já que aqui não há excessos de raiva apresentado no seriado televisivo e tão pouco o lado sombrio e ameaçador do personagem e seus traumas de infância... ambos elementos fundamentais apresentados nas HQs.


Arte conceitual do Hulk em computação gráfica... uma tentativa frustrada em se aproximar da versão antológica desenhada por Sal Buscema.

Banner é caçado por Ross e seu soldado combatente... Emil Blonsky (Tim Roth)... que acredito eu... seja uma das poucas coisas que se salva no filme. A crueldade de Blonsky remete bastante aos quadrinhos... pena seu personagem ter sido muito mal desenvolvido em computação gráfica nos momentos em que o soldado é transformado no Abominável... com um design que o descaracteriza totalmente das HQs... deixando-o parecido com uma espécie de filho de Cloverfield... que sinceramente... mesmo eu desgostando do filme de Matt Reeves... reconheço que a produção de J.J. Abrams e companhia é ao menos assustadora quando vemos o monstro computadorizado sob o ponto de vista da câmera.


Um dos maiores desafetos do Hulk nos quadrinhos com uma caracterização elaborada às pressas.

Prosseguindo com o roteiro: sozinho... o que resta para Banner é se reencontrar com sua amada Betty (Liv Tyler)... filha de Ross... que agora se encontra em um "quase" relacionamento com Leonard (Ty Burrell)... um psiquiatra. Ross experimenta parte do soro em Blonsky e o transforma num supersoldado... que não se importa o quão arriscada possa ser sua missão... ele não desiste fácil. Quando Banner... com a ajuda de seu alter ego pele casco de cavalo... conseguem se aproximar de Betty e deixá-la segura para que ela não corra risco de vida nas mãos de seu pai. Blonsky... abatido pelo alter ego de Banner... se liberta de seu coma e parte novamente para a caçada... o soldado está fortemente energizado. Quando se encontrava isolado... Banner se comunicava com uma pessoa que atendia como "Sr. Azul" (Tim Blake Nelson)... que depois é revelado como Samuel Sterns... um cientista que por não conseguir colher amostras de sangue o suficiente de Banner... passou a testar seu sangue em cobaias... reforçando a iniciativa de Ross na criação de supersoldados que seriam usados como armas. Sterns na verdade se comunicava com Banner sob falso pretexto... fazendo-o acreditar que sua intenção era curá-lo. Blonsky adentra ao laboratório de Sterns e exige que ele o transforme "naquilo" que Banner se tornou. Ameaçado... Sterns bombardeia Blonsky com radiação gama... e ele se transforma no "Abominável"... causando o caos nas ruas do Harlem... em Nova Iorque.


Alguém aí curte games?

A Marvel passa vergonha em mesclar um universo imbecil dos quadrinhos com uma jornada muito bem sucedida com a cronologia normal dos mesmos. A direção do francês Louis Leterrier é tão abaixo de genérica... que consegue ser tão vazia quanto o roteiro de Zak Penn... o responsável pelo roteiro de Os Vingadores... ao lado de Joss Whedon... quando achávamos que a situação com o Gigante Verde poderia caminhar para melhor. A trilha sonora clássica do Hulk televisivo composta pelo grande Joseph Harnell aqui é recriada com alguns trechos por Graig Armstrong... mas nada que remeta a um resgate às raízes do espírito do bom e velho seriado.


Edward Norton com efeitos digitais fazendo caras e caretas.

Outra b*sta nessa retomada foi resgatar o espírito oitentista... que de tão banal que se torna com cenários limpinhos... foi praticamente um ponto de partida para que muitos "cineastas" se baseassem nisso... passando uma sensação de falsa nostalgia. Nem mesmo Lou Ferrigno... o Hulk que fez história na tevê... conseguiu um personagem de destaque nessa desgraça... um outro exemplo da pobreza por parte do roteiro... em não sair do convencional de lutas... piadinhas... citações aos quadrinhos... informações subliminares dos mesmos e tudo que servira de construção cronológica para um universo cinematográfico de pura e completa mesmice. E se há alguma pitada de melancolismo aqui... ela se dá apenas quando o alter ego de Banner leva sua amada para uma caverna... desvencilhando-se de alguns momentos imbecis da continuidade retroativa que o roteirista Jeph Loeb apresenta na minissérie intitulada... Hulk Cinza.


Banner no controle.

Quanto ao personagem que leva o título do filme... seu rótulo de "incrível" é deveras limitado. Esse Hulk consegue apresentar feitos descomunais (palmada sônica) e de resistência (resistindo ao ataque de um canhão sônico)... mas é rebaixado em poder (quanto mais zangado... mais forte ele fica)... em momentos em que ele deveria mostrar sua força ilimitada dos quadrinhos. Tamanha limitação que se torna evidente de que esse estúdio criou uma nova versão que se distancia daquela versão descomunal que ainda é representada nos quadrinhos. E o resultado disso pode ser facilmente comprovado nos demais filmes em que essa versão aparece (pois ela nunca mais teve a chance de uma adaptação solo)... como aqui... aqui e vergonhosamente aqui. A desculpa é que agora Banner controla as ações do "Hulk"... como vimos nessa retomada... que com ajuda de técnicas de meditação ele nunca mais se transformaria numa fera indisciplinada. E como apresentado recentemente aqui... onde ambos se fundem num só... conforme as tentativas de curas de Banner que sempre tratava seu alter ego como uma doença ou como algo que ele queria se livrar... até ele enxergar o Hulk como uma forma de cura... ocorrendo assim uma função entre os dois. Uma solução que descaracteriza completamente o personagem... transformando-o em algo que ele está muito longe de ser.


Banner e Hulk agora fazem parte da turma.

TENTOU... MAS FALHOU.
1- Retomar a versão do Hulk de Ang Lee.
2- Adaptar o período do Hulk nas HQs escrito por Bruce Jones.
3- Homenagear o seriado televisivo do Hulk.
4- A "flor" rara que Banner procura no Rio de Janeiro usada como explicação pífia como cura... é uma forma de dar vida ao episódio (não filmado) do seriado televisivo do Hulk intitulado "Os Índios"... em que David Banner (Bill Bixby) viajaria para o Amazonas em busca de uma cura para sua maldição.
5- Dando um objetivo para o "Hulk" decorrente das técnicas de meditação que Banner utilizara para controlar sua raiva... é praticamente o próprio Banner que confrontara o Abominável nas ruas do Harlem. Portanto... mesmo no descontrole de Banner é o próprio quem vence o Abominável no final... enforcando-o com uma corrente que ele utilizara para descontar a mesma forma de ataque que o Abominável usara contra ele. Uma solução pífia... que mostra que mesmo um Banner descontrolado e selvagem não é capaz de vencer seus oponentes no braço. Um "Hulk" que no fim era praticamente o Banner se repetira no insosso "Vingadores: Era de Ultron" de 2015... que mesmo enfurecido... foi motivo de piadas nas mãos do Homem de Ferro. Nas HQs... o Hulk... mesmo com a mente de Banner... ainda é capaz de esmagar seus oponentes com brutalidade.
6- Lou Ferrigno faz a voz para a nova computação gráfica do Hulk. Porém... graças ao péssimo trabalho por parte do uso da computação... a contribuição de Ferrigno passara batida.

MELHORES MOMENTOS.
1- Aparição de Bill Bixby num dos episódios do seriado Papai Precisa Casar.
2- Participação de Rickson Gracie no primeiro ato no Rio de Janeiro... onde ele ensina à Bruce Banner (Edward Norton) técnicas de como controlar o medo e as emoções para que ele tenha um entendimento de seu corpo.

MOMENTOS VERGONHOSOS.
1- Piada fora de contexto com um dos sintomas que o Bruce Banner sofre nos quadrinhos que ativa sua transformação em Hulk.
2- Gringo atuando como brasileiro nas filmagens na Favela da Rocinha no Rio de Janeiro.
3- Cenas de perseguição na Favela da Rocinha onde o BOPE é apresentado como um bando de policiais despreparados.
4- Versão nerd de Banner (Norton) que sofre do complexo de autopiedade.
5- Edward Norton correndo do BOPE de mochilinha nas costas.
6- Brasileira (Débora Nascimento) que só faz o papel de uma mulher salva por Banner (Norton) de brasileiros (que não são brasileiros)... mas totalmente inexpressiva.
7- Um nerd que aparece na sala do instituto em que Banner adentra para utilizar os computadores.
8- Outra citação nerd no momento em que Betty tenta fazer Bruce se soltar quando ele usava camisa por dentro da calça.
9- Blonsky em sua forma humana e energizado com o soro do supersoldado lutando com o "Hulk".
10- Piada sem graça relacionada com a calça roxa que o Hulk usa nos quadrinhos.
11- Banner que não pode se excitar na hora da transa... caso contrário seus batimentos cardíacos se aceleram e ele se transforma no "Hulk".
12- Mais uma piada fora de contexto quando Banner e Betty se encontram dentro de um táxi em Nova Iorque.
13- Versão nerd de Samuel Sterns... o Líder.
14- Atuações constrangedoras de Edward Norton quando ele se transforma no "Hulk" no laboratório de Sterns.
15- De líder do grupo de apoio onde o personagem de Edward Norton se encontrara em Clube da Luta... Christina Cabot vive uma major que mais atrapalha o General Ross (William Hurt) do que o ajuda.
16- "Hulk" usando carcaças de carros como luvas de boxe para enfrentar o "Abominável".
17- Citação ao Bruce Lee quando o "Hulk" mantém seu pé em cima do corpo do "Abominável".
18- CENAS DELETADAS (ABERTURA ALTERNATIVA): momento pífio e inexpressivo do autopiedoso Banner (Norton) quando ele tenta cometer suicídio numa citação da primeira edição da minissérie em HQs "BANNER".
19- CENAS DELETADAS (DIÁLOGO ENTRE BANNER E O PSIQUIATRA): Banner (Norton) revela para o psiquiatra Len (Ty Burrell) que há "aspectos de sua personalidade que ele não consegue controlar"... sendo que a retomada sequer explora a psique fraturada de Banner como na versão de Ang Lee. O Banner de Norton sequer dá indícios de que é uma pessoa perturbada com problemas para controlar a raiva e até mesmo algo que afloraria o seu lado escuro e ameaçador. Essa versão não possui a profundidade dos quadrinhos... pois ela só aparece em tomadas de ação genéricas.
20- CENAS DELETADAS (BANNER NA MESA DE JANTAR COM BETTY E O PSIQUIATRA): outro momento autopiedoso de Banner (Norton) chorando na frente do psiquiatra e de sua amada.
21- CENAS DELETADAS (BANNER ENTREGANDO PIZZA): Banner (Norton) é humilhado por uma garota ao entregar uma pizza para a mesma... não recebendo o dinheiro e acabando sendo enrolado e humilhado por ela. Nem mesmo a fala icônica "Não me irrite... não iria gostar de me ver zangado!" é respeitada aqui... pois tudo é motivo para deboche e um pretexto para que o personagem de Norton seja mais humilhado. Outro momento constrangedor da entrega da pizza é quando Banner deixa a mesma nas mãos de um nerd que faz citações esdrúxulas à Star Wars.
22- CENAS DELETADAS (BANNER PRATICANDO YOGA NA FAVELA DA ROCINHA): outro momento deveras constrangedor e forçado por parte da atuação de Edward Norton em uma citação esdrúxula ao período das HQs do Hulk roteirizadas por Bruce Jones.
23 - TODO O PROCESSO RELACIONADO COM A COMPUTAÇÃO GRÁFICA DO HULK: maquiagem inexpressiva... cintura fina... textura de pele exageradamente escura (casco de cavalo)... o verde que mais parece um boneco de plástico com as veias coladas na musculatura e captura de movimentos constrangedoras por parte de Edward Norton... incluindo a corridinha do "Hulk" quando ele confronta o exército de Ross.


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