sábado, 23 de novembro de 2019

Exorcizando "Doutor Sono" com "O Iluminado".


Uma família se dirige a um hotel isolado para o inverno, onde uma presença sinistra influencia o pai para atos violentos, enquanto seu filho psíquico vê pressentimentos horríveis do passado e do futuro.

Com duas horas e vinte e seis minutos de duração (ou menos... caso não tenha sofrido algum corte em particular)... a Rede Brasil de Televisão reexibe O Iluminado de Stanley Kubrick... baseado na obra de Stephen King. Com roteiro do próprio Kubrick... em parceria com Diane Johnson... o filme deixa uma questão no ar: assim como a obra O Exorcista de William Peter Blatty... o que seria mais chocante? O livro... ou o filme? Sabemos que em sua adaptação para as telonas... O Exorcista de William Friedkin... fez por merecer todo o sucesso que o consagrou mundialmente como um dos melhores filmes de terror da história... reforçando a importância da obra de Blatty... que antes de seu reconhecimento... era um tanto quanto obscura.


O Iluminado... obra de Stephen King.

A trama de "O Iluminado"... é na verdade bastante simples. O pai de uma família... Jack Torrance (Jack Nicholson) recebe uma proposta de emprego para se mudar para um hotel isolado no inverno... junto com sua mulher... Wendy (Shelley Duvall) e seu filho... Danny (Danny Lloyd). O filho do casal é uma criança que vem se comunicando com um amiguinho imaginário... "Tony"... algo similar à Linda Blair com seu amigo "Capitão Howdy"... em O Exorcista. Não apenas os animais... que podem enxergar além de nós seres humanos... há também crianças que a parapsicologia... uma pseudociência... acredita serem especiais.


Danny e seu amigo... Tony.

O filme é divido em várias etapas: a entrevista para conseguir o emprego... a viagem de Jack e sua família ao hotel... e por fim... a interrupção abrupta de sua mulher... Wendy... para com as obrigações de seu marido... fazendo com que a mente de Jack se deteriore... facilitando a influência de algo demoníaco que habita no interior do hotel. Com trilha sonora de Wendy Carlos... Rachel Elkind e algumas passagens que remetem bastante ao "Exorcista"... "O Iluminado" parte diretamente para o prato principal... mas mesmo assim é um filme deveras arrastado... não por apresentar mortes sanguinolentas ou qualquer outro elemento que nos impressionaram e ainda continua impressionando como em "O Exorcista"... mas sim por um tipo de horror bastante incomum e cansativo... em que em algumas pessoas... no meu caso em particular... dificilmente despertaria uma sensação de medo. Acredito que nem se eu tivesse alugado o filme nas épocas vindouras das locadoras... ele não me deixaria aterrorizado.


O reforço de Danny.

Ciente de que o pai o machucará... o menino usa seus poderes psíquicos para trazer outro personagem com as mesmas habilidades para protegê-lo. Ambos são iluminados... e Jack terá de fazê-los desaparecer... assim como um certo zelador fez em 1921... provocando a morte de suas duas filhas... cortando-as em pedacinhos com um machado.


Venha brincar conosco... Danny.

O filme apresenta um linguajar pesado... que ficou muito bem retratado com a dublagem em português. E mesmo reexibido sem comerciais... a Rede Brasil comete uma atrocidade com os fãs... cortando aquela que seria a melhor cena do filme.


Lia Beldam... a garota da banheira.

Jack persegue Danny e sua esposa... ele quebra o rádio e impossibilita que mãe e filho sejam socorridos... permanecendo presos no interior do hotel. Jack mata a machadadas o protetor de Danny... com a mãe de Danny permanecendo dentro do hotel... enquanto Jack perseguira o filho no exterior do mesmo... em um labirinto... onde Danny escapa e seu pai morrera congelado.


O fim de Jack Torrance.

O que mais me incomoda em "O Iluminado"... é o final. Esperava mais do personagem de Nicholson... e pelo que pude entender... o mesmo seria o responsável pela chacina cometida em 1921... ou o demônio o colocara no álbum de fotos apenas como mais uma vítima dos registros históricos de suas influências diabólicas.


Classe de 1921.

CURIOSIDADES:

Stanley Kubrick considerou Robert De Niro e Robin Williams para o papel de Jack Torrance, mas decidiu ir contra eles. Kubrick não achou que De Niro se encaixaria no papel depois de assistir sua atuação em Taxi Driver: Motorista de Táxi (1976), pois considerava De Niro não psicótico o suficiente para o papel. Ele não achou que Williams se encaixaria no papel depois de assistir sua performance em Mork & Mindy (1978), pois o considerava psicótico demais para o papel. Segundo Stephen King, Kubrick também considerou brevemente Harrison Ford.

Antes de contratar Diane Johnson como sua parceira de roteiro, Stanley Kubrick rejeitou um roteiro escrito por Stephen King. O roteiro de King foi uma adaptação muito mais literal do romance, um filme de terror muito mais tradicional do que o filme que Kubrick finalmente faria. Ele estava pensando em contratar Johnson porque admirava a obra "The Shadow Knows", mas quando descobriu que ela era doutora em estudos góticos, ficou convencido de que ela era a pessoa certa para o trabalho.

Stephen King foi abordado pela primeira vez por Stanley Kubrick sobre a realização deste filme através de um telefonema matutino (a Inglaterra está cinco horas à frente do Maine em fusos horários). King, sofrendo de ressaca, barbeando-se e, a princípio, pensando que um de seus filhos estava ferido, ficou chocado quando sua esposa lhe disse que Kubrick estava realmente ao telefone. King lembrou que a primeira coisa que Kubrick fez foi começar imediatamente a falar sobre o quão otimistas são as histórias de fantasmas, porque sugerem que os humanos sobrevivam à morte. "E o inferno?" King perguntou. Kubrick parou por alguns momentos antes de finalmente responder: "Eu não acredito no inferno?" King respondeu afirmando que existem pessoas que acreditam no inferno e que o temem mais do que a própria morte. Isso foi tremendamente eficaz para ajudar Kubrick a entender a sensação da história.

Durante as filmagens, Stanley Kubrick fez o elenco assistir Eraserhead (1977), O Bebê de Rosemary (1968) e O Exorcista (1973) para colocá-los no estado de espírito certo.

Stephen King ficou decepcionado com este filme. Em uma entrevista na edição de junho de 1986 da American Film, ele disse: "É como um Cadillac bonito, sem motor dentro, você pode sentar nele e apreciar o cheiro do estofamento de couro, a única coisa que não pode fazer é levá-lo a qualquer lugar. Portanto, eu faria tudo diferente. O problema real é que Kubrick decidiu fazer uma imagem de horror sem um entendimento aparente do gênero. Isso tudo é gritante do começo ao fim, das decisões da trama até a final cena." Em particular, King não gostou do elenco de Jack Nicholson como Jack Torrance. Isso porque ele achava que, no livro, era fundamental que Jack fosse inicialmente um homem bom, lentamente vencido pelas forças do mal e que estivesse travando uma batalha perdida contra o alcoolismo. King era de opinião que, devido ao elenco de Nicholson, que era conhecido por interpretar personagens instáveis, Jack no filme está muito no limite quando a história começa, e o personagem não possui a bondade interior tão vital para o Jack do livro. King queria escalar alguém que pudesse interpretar o personagem como mais genial nos estágios iniciais. Aparentemente, ele gostava muito de Jon Voight. Ele também ficou bastante desapontado com o fato de os temas dos males do alcoolismo e da desintegração da unidade familiar serem relativamente sem importância no filme, devido à sua própria batalha contra o alcoolismo, e devido a esse investimento pessoal nesse aspecto do livro, ele ficou em grande parte desanimado com o filme.

O amigo imaginário de Danny Torrance, Tony, não recebe muita explicação no filme de 1980, no entanto, no livro, Tony é realmente o adulto de Danny falando com ele do futuro (no livro, o nome do meio de Danny é Anthony, ou "Tony", para abreviar). Além disso, no livro, Tony é um amigo imaginário benevolente que age como uma espécie de consciência, bem como um sexto sentido, e um companheiro para Danny, já que ele não tem muitos amigos na escola. Tony também é totalmente visível para Danny como pessoa. No filme, Tony é invisível e é apenas uma voz aguda, que fala com os pais de Danny através do próprio Danny. No filme, Tony também parece quase maligno, ou um sinal de que Danny está mentalmente perturbado, muitas vezes fazendo Danny desmaiar ou assustar sua mãe, mostrando-lhe imagens gráficas e eventualmente possuindo Danny e fazendo-o escrever "REDRUM" (MURDER / ASSASSINO) na parede do hotel com o batom de Wendy Torrance.

Sabendo de seu interesse no paranormal, o presidente da Warner Brothers, John Calley, enviou a Stanley Kubrick uma cópia da galeria da obra "O Iluminado".

A cena em que Wendy está correndo e vê uma sala onde um homem fantasiado de urso está fazendo sexo com o ex-gerente de hotel nunca foi explicada no filme, deixando o público muito confuso sobre o porquê de estar lá. No livro, durante um ano no hotel, o gerente teve um caso homossexual secreto com um convidado da festa vestido com uma fantasia de cachorro, o que é a explicação mais próxima.



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